Lei da Agrofloresta #2 - MIRE NO SEU TETO FOTOSSINTÉTICO
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Lei da Agrofloresta #2 - MIRE NO SEU TETO FOTOSSINTÉTICO

Atualizado: 28 de ago. de 2020



Imagine que você recebe uma pensão annual de R$100.000,00. Nada mal, hein? Você se sente bem com essa renda de 6 dígitos, consegue financia sua casa, comprar um bom carro, comer bem, viajar todo ano, esquiar, oular de paraquedas, comprar um bicicleta boa, mas mais importante de tudo: pode investir bem na sua agrofloresta. Você tem uma vida maravilhosa. Mas tem uma questão: você recebe esse dinheiro em 3000 parcelas de R$33,33, que são pagas a cada hora, todo dia, das 8h às 16h. E aqui a segunda questão: se você não investir o dinheiro imediatamente, assim que o recebe, você vai perdê-lo. Aposto que você criaria um sistema muito bom para investir esse dinheiro a cada hora e manter essa renda de 6 dígitos. Pois bem, esse é o panorama do seu campo agrícola, as 3000 parcelas são as horas de sol que você ganha anualmente e os R$33,33 é a quantidade de energia solar que você ganha a cada hora.


Na realidade, a quantidade de energia solar que você recebe depende de onde mora, variando de 1500 a 3500 horas. Mas não importante onde estiver, há uma quantidade finite de energia solar que você recebe por ano. E seu você não utilizá-la, não só elas será perdida, mas pior ainda: será utilizada contra você.


Cada metro quadrado de terra desse planeta tem um TETO FOTOSSINTÉTICO, isto é, a máxima quantidade de fotossíntese que pode ser realizada nessa porção específica de terra. O teto fotossintético é um ideal que nunca pode ser alcançado. Para alcançá-lo, você teria que ter uma seleção erfeita de espécies de plantas, consorciadas de maneira impecável para criar o ambiente de luz e sombre perfeito para cada espécie, produzindo a mais densa cobertura foliar na área, em solo capaz de suprir as plantas com um balanço perfeito de nutrientes E, além de tudo isso, manter as espécies devidamente podadas para maximizar a taxa fotossintética de cada invidíduo. É um ideal, e você não

pode atingí-lo. Mas isso não quer dizer que você não deva mirar nele.


A maioria, se não todos, dos recursos renováveis que utilizamos são produtos diretos ou indiretos da fotossíntese. Alimentos, roupas, combustível, energia, materiais de construção, água, drogas, beleza, orxigênio. Todos estes, se não diretamente produzidos através da fotossíntese, têm as plantas desempenhando um papel importante no processo. Incrementar a fotossíntese é igual a produzir recursos. É nosso dever, como cultivadores da terra, trabalhar para atingir a máxima quantidade de fotossíntese possível em nossos campos. Você deve MIRE NO SEU TETO FOTOSSINTÉTICO.


Não estou nem dizendo isso em relação a captura de carbon e mitigação das mudanças climáticas para salvar o planeta, isso vai ser assunto para outro dia. Estou falando sobre produzir mais recursos, sobre nos tornarmos mais RICOS como indivíduos e sociedade. Estou falando sobre investir essa pensão que o sol nos dá a cada hora para que possamos COLHER uma conta bancária gorda amanhã. And eu posso te dizer, a agrofloresta vai te ajudar a incrementar esses juros compostos.


Através de práticas tais como estratificação, poda e sucessão de espécies, a agrofloresta aumento a cobertura foliar de determinada área, crianda um rede de captura de luz solar (da mesma maneira como falei sobre a rede de captura de nutrients lixiviados na semana passada), de modo que nenhum raio de sol atinja o solo sem ser interceptado por uma folha. O propósito aqui não é nos aprofundarmos nestas técnicas, portanto vou apenas resumir como cada uma delas influencia na taxa fotossintética do sistema como um todo:


1. Estratificação – consorciando espécies, de modo que cada uma ocupe um andar (estrato) diferente na floresta. Cada espécies evoluiu em seu ecossistema de origem ocupando a camada emergente, alta, média ou baixa da floresta. Compreendendo de onde cada espécie vem e qual estrato ela ocupa no seu local de origem, você pode criar um sistema agroflorestal multi-estratificado que aumenta a captura de luz solar na área, devido à maior cobertura foliar do sistema

2. Sucessão de espécies – um tópico comum em estudos ecológicos. Um ecossistema evolui à medida que um grupo de espécies sucede outro grupo, quando este amadurece e more. Na agrofloresta, aproveitamos espécies com ciclos de vida diferente para garantir uma densa cobertura foliar na área desde o início de implantação do sistema

3. Poda – esta operação permite que as plantas mantenham ramos saudáveis e vigorosos. Árvores velhas e sem poda (assim como florestas velhas e sem poda) podem inclusive ter um saldo fotossintético negative, quando você considera o consumo da planta através da respiração em relação à produção através da fotossíntese. A poda garante a manutenção de ramos jovens e verdes, com folhas grandes e a otimização da copa das árvores para máximo aprovietamento da luz solar


Se as 2 primeiras práticas (estratificação e sucessão de espécies) são estratégias de planejamento dos nossos sistemas, a terceira (poda) é uma operação de manejo que deve ser regularmente realizada no campo.


Como tudo na Natureza, a taxa fotossintética participa de um ciclo. Quanto mais fotossíntese a planta faz, mais saudável ela é, e quanto mais saudável ela é, mais fotossíntese faz. O mesmo é verdade para o seu campo agrícola como um todo. Basicamente, tudo que se aplica ao indivíduo “planta”, se aplica ao campo agrícola como um todo, à floresta, ao conjunto de indivíduos que forma um ecossistema.


A taxa de fotossíntese de uma planta vai influenciar diretamente na quantidade de sólidos solúveis em sua seiva, a famosa medida obrix. Há pesquisadores que dizem que quanto mais alto o brix da seiva da planta, mais resistente a pragas e doenças ela é, sendo imune a partir de 14o brix. Apesar de não ter pesquisado a fundo esses dados, nem ter colocado essa teoria à prova em campo (embora pretendo fazer em breve), o conceito faz sentido: “quanto mais saudável é uma planta, menos suscetível a pragas e doenças ela é”. Não é uma teoria de outro mundo, é bem simples e sensata.


E podemos traçar uma conexão desta teoria com a fisiologia de fungos, bactérias e insetos que atacam vegetais. Estes seres tem um sistema de alimentação projetado para extrair nutrientes de material vegetal em decomposição. Da mesma forma como nem eu nem você conseguimos (nem mesmo queremos) extrair nutrientes de uma pedaço de carne ou abóbora já em decomposição, esses seres não conseguem digerir material vegetal em perfeita saúde. Seus sistemas digestivos são simples e necessitam de nutrientes simples e prontamente disponíveis para digestão. Plantas saudáveis tem todos os nutrientes em sua seiva ligados a moléculas complexas, de difícil digestão, além de terem uma série de metabólitos especificamente produzidos para tornar ainda mais desagradável a experiência de um desses seres que se aventure a atacá-las. Estes metabólitos só podem ser produzidos, no entanto, se a planta já cuidou das suas necessidades básicas: produzir raízes e folhas e fotossintetizar para se alimentar e crescer. Portanto, plantas realmente saudáveis não são nada atrativas para fungos, bactérias e pragas. O problema é que poucas pessoas realmente viram uma planta saudável. Estamos acostumados com ecossistemas degradados e plantas em péssimo estado de saúde, que só sobrevivem à base de adubação pesada e agrotóxicos, que pode ser considerado o mesmo que receber nutrientes na veia e remédios e mais remédios.


Por fim, existem 2 pontos – os quais são intimamente relacionados – que considero de extrema importância para elevarmos a taxa fotossintética dos nossos campos.


· Fertilidade do solo – já exploramos as 3 faces da fertilidade do solo (química, biológica e física) no último artigo. Da mesma maneira como uma pessoa bem nutrida e saudável consegue realizar mais, a planta bem nutrida e saudável consegue realizar mais fotossíntese. Os vegetais necessitam de nutrientes disponíveis para construir e manter seus tecidos vivos, incluindo os tecidos fotossintetizantes. Quando consegue absorver tudo que precisa no solo, a planta consegue manter folhas maiores e mais numerosas e, consequentemente, atinge taxas fotossintéticas mais elevadas. Alguns nutrientes irão agir na composição estrutural da planta, outros irão compor enzimas de reações, outros irão atuar no transporte de açucares. Se há falta de nutrientes, a planta não consegue expressar seu máximo potencial fotossintético.

· Escolha de espécies – fertilidade de solo é um conceito relativo à espécie. Existem espécies mais e menos exigentes em questão de solo. Se o tomateiro necessita de um solo com pH entre 6,0 e 7,0 e uma boa disponibilidade de cálcio e magnésio, o abacaxizeiro prefere um pH entre 4,5 e 5,5, e se desenvolve bem com teores de cálcio e magnésio bem abaixo do que o tomateiro demanda. Por isso, para buscarmos nosso teto fotossintético, devemos utilizar espécies que bem se adaptem aos nossos solos e clima. Estas espécies serão capazes de realizar mais, de trabalhar mais, com os recursos que têm disponíveis. E no caso de querermos produzir espécies mais exigentes, devemos sempre fazer uma adubação adequada para garantir a saúde e vigor daquela espécie.


No final das contas, podemos resumir esses 2 pontos em: “Busque uma combinação adequada de espécies – solo – clima para elevar sua taxa fotossintética”.


E este é um bom gancho para nos levar ao tema da próxima semana: SEMPRE BUSQUE ESPÉCIES MAIS EFICIENTES

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